segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O espelho

Hoje olhei no espelho
Não percebi marcas
Não percebi rugas
O tempo parece ter parado.

Não encontrei traços externos
Mas sinto a corrosão dos anos
Dessas ranhuras mais profundas
Que riscam a alma.

Dizem que o espelho não mente
Mas ainda que pareça jovem
Ainda que coração pulse
A esperança está diminuindo.

Minha foto está nítida
Minha face está clara
Minha áurea está brilhante
Mas meus olhos estão distantes.

E neste infinito túnel de imagens
Eles vagueiam por entre sombras
Tentado captar os reflexos
Da existência um homem.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

sábado, 29 de outubro de 2011

Iceberg


Nada além do frio
De uma montanha gelada
A ponta
De um iceberg.

Assim sou eu
Escondido
Dentro de mim mesmo
Coração de pedra.

A deriva
Depois da queda
Sem rumo
Flutuando ao sabor do vento.

Você veio
Como um navio quebra-gelo
Forçou a barra
Derreteu meus medos.

E me chupou como picolé.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira.

Alto mar

Meu espírito navega
Neste alto mar de sal
Não há horizonte por trás das ondas
Somente o meu barco persiste.

A noite vem chegando
E o vento teima em manter a calmaria
Não vejo nenhuma estrela
Somente o sol se pondo.

Meu barco é uma folha na água
Tão frágil como uma borboleta
Estou sem rumo e sozinho
Não vejo nenhum farol distante.

Sigo lentamente rumo às trevas
Como se quisesse ser engolido
Não há medo em meus olhos
Ou qualquer outro sentimento.

Deslizo rumo ao nada
Como uma onda que se quebra
Aguardo apenas a minha sorte
Me livrar das garras do destino.

Autor; Gilberto Fernandes Teixeira.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dom Quixote melancólico

A muito enfrento moinhos de ventos
Meu coração é tresloucado de paixão
Sou desvairado por natureza
E meus inimigos estão dentro de mim.

Meu fiel escudeiro é Sancho Pança
Sempre a minha frente a ditar-me as leis
Não cavalgo em busca de um romance
Nem quero ser uma triste figura.

Meus ideais são modernistas
Enfrento máquinas e domino tecnologias
Minhas ficções já são realidades
Mas levo uma vida séria na brincadeira.

Uma pergunta enfim ficou sem resposta
Para onde irei neste mundo tão deserto?
Tendo o sol e os moinhos por companhia!
Talvez não irei além da melancolia.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O galo


Há um galo no terreiro
Que canta em alvoroço
Ele quer acordar o mundo
Nos primeiro raios da madrugada.

Sua insônia é pertubadoura
Ele arrasta as suas asas pelo quintal
Não é um galo comum
Pois já venceu em muitas raias.

Ele sempre ensaia um canto seco
Um quase chorar na linguagem das aves
Um pedido de clemência
Para morrer de velhice.

Sem ter enfrentar a prova da panela.

Autor Gilberto Fernandes Teixeira

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A paleta

Estou novamente colorindo a vida
Dando cores ao meu mundo
Cansei de sonhos em preto e branco
Vou pintar de novo minha realidade.

Os dias deixam as cores tão frágeis
Que na monotonia das horas descascam
O sol na parede é um câncer letárgico
Que correi todos os ofícios humanos.

Comprei paleta e tinta fresca
Pinceis e cores variadas
Comprei também tela e aquarela
Para redesenhar um sol amarelo.

Vou começar a minha pintura
Pelos rodapés da vida
Vou dar um retoque no azul do meu céu
Quem sabe eu morra está semana...

Autor; Gilberto Fernandes Teixeira.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A rosa


Por que a rosa sendo rosa
Mesmo vermelha rosa será
Se amarela pouco importa
Se branca quase dá para disfarçar

Já registraram como rosa
Mesmo a rosa cor de anil
A rosa que não nasceu rosa
É rosa por definição.

“Receba a flores que lhe dou”
Em cada flor um beijo meu
Rosas vermelhas de amor
“Amor que por você nasceu.”

Como os espinhos e as rosas
Mistérios há no coração
O amor que muito protege
Pode sufocar uma paixão.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Estrela

Meus cinco pontos de luz
Que meu universo ilumina
Qual é o grau da tua grandeza?
Seria mulher ou menina?

Sua luz são muitos sois
Para você trevas não têm
E buracos negros são claros
Pois já fora eles também.

È a poeira deste cosmos
A muito dantes condensada
No big bang da vida
É uma supernova formada.

Daqui da Terra imagino
“Estrela da vida inteira”
Sua eternidade combina
Com a minha tênue existência.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

sábado, 22 de outubro de 2011

A janela

Abra sua janela
O sol já está a pique
Deixe a luz entrar
E faça as sombras saírem.

Limpe bem a sua tela
Veja a natureza
Os pássaros já estão cantando
E as flores estão abertas.

Lembre-se que por esta janela
Alguém já mudou o mundo
Saiu do galpão do anonimato
Só porque acreditou em um fato.

Abra também outras janelas
Pode ser a do seu coração
Liberte-se dessa prisão
E voe sem direção.

Pois o mundo aqui de dentro
É bem maior que o de fora.

Autor; Gilberto Fernandes Teixeira.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O ator

Neste palco da vida
Onde as cortinas se fecham
E os aplausos se calam
Vou dando meus espetáculos.

Sigo sem destino
Meu teatro é o meu peito
Minhas maquiagens
São as minhas dores.

Dia após dia
Interpretando papeis
Vivendo vidas já passadas
Como se quisesse ressuscitá-las.

Um papel aqui
Outro papel acolá
E a vinha própria vida
Quem poderá interpretar?

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Letras


No meu prato
Apenas letras
Todo o alfabeto
Ensopado.

Estou saboreando
Silabas
Vou almoçando
Palavras.

Degustando
Nomes
Arrotando
Frases.

De repente um verso
Disolvendo em minha boca
Uma pequena estrofe
Enfim um texto.

É a poesia
Descendo goela abaixo.

Autor Gilberto Fernandes Teixeira

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Estática

Estive parado
A poesia não quis me visitar está semana
Ela andou por outros quintais
Ela vagou por outros becos.

Não fiquei triste
Por que sei que ela é assim mesma
Não pertence a mim nem a outros poetas
Ela só vem quando menos se espera.

A poesia é uma musa
Também pode ser uma brisa
Um momento de delírio
Um relâmpago sem trovão.

Com ela não preciso marcar encontros
Ela é quem me persegue
È ela quem sempre dar as cartas
Depois eu fico a ver navios.

Nem ao menos me considero um poeta
Escrevo por que acho gostoso
Fico ouvindo vozes
E conversando comigo mesmo.

Quanto à poesia?
Dou um tempo...
Depois ela sempre volta.
Estática.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

domingo, 16 de outubro de 2011

Matusalém.

Há séculos venho me tornando pedra
Minhas raízes enegrecem com os ventos
Não tive a sorte de morrer ainda
Pois tenho a morte por companhia.

Já vi milhares de amanhecer e entardecer
Também homens findando suas histórias
Neves, tempestades e calmarias.
Já enfrentei climas brandos e traiçoeiros.

Às vezes fico sem folhas
Pareço morto e ressequido por fora
Mas por dentro minha seiva insiste
A vida fez em mim sua morada eterna.

Você pode até me achar muito estranho
Apenas um tronco com poucas folhas
Mas o tempo tem me preservado
Neste solo quase sem vida.

Por que insisto é um mistério
Tenho apenas 4800 anos
Sou apenas um pinheiro das Américas
E me chamam de matusalém...

Autor Gilberto Fernandes Teixeira

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Namorando flores


Nunca me canso de namorar as flores
Pois nelas sinto indescritíveis amores
Pode o dia não ter nascido feliz
Posso ter colocado o pé esquerdo primeiro no chão.

Se vejo uma flor me torno um colibri
Nunca penso em desistir e logo quero beijá-la
Essas flores são amores perfeitos
São rosa, margaridas e copos de leite.

Elas despertam as minhas fantasias
Fazem meu espírito sonhar com imensos canteiros
Fazem o meu céu se encher de pétalas
E posso passar o dia todo brincando de “bem me quer”.

As flores são as razões das essências dos perfumes
A poesia natural dos campos, bosques e desertos
As cores que enfeitam o nosso real “sol de primavera”
As flores são úteros a espera do fruto.

Não preciso de um codinome
Nem tão pouco preciso proteger seu nome
Nem mesmo os nossos espinhos
Por que sei que isto entre nos é amor.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A poesia


Ela veio...
Com seus cabelos ao vento
Galopando em pensamentos
Atraindo com seu olhar de imã.

Confesso não resisti aos encantos
Entreguei todos os meus pontos
Meu coração e uma voz quase rouca
Enfim a minha sorte foi lançada.

Ela chegou até aos meus ouvidos
E murmurrou palavras macias
E eu fiquei todo arrepiado
Querendo saber o seu nome.

Mas como uma bruma que passa
Ela se tornou fumaça
E só deixou seu perfume
Também um frasco vazio onde se lia “poesia”

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O presente


Qual foi seu maior presente?
Um carro zero quilômetro
Uma casa com piscina
Ou linda motocicleta.

Qual é seu melhor presente?
Talvez um relógio de ouro
Um perfume francês
Um bom vinho português.

Qual é o seu atual presente?
Ganhar uma viagem até o final do ano
Encontrar a felicidade que sempre sonhou
Passar um reveillon no Rio de Janeiro.

Todos nos gostamos de presentes
De uma caixa colorida ou de um cartão assinado
É tão bom dar, como também receber
Mas o meu especial presente ainda é você.

Sou feliz por apenas fazer parte
 de pelo menos um dia de sua vida...

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sarobá

Estrelas flutuantes
Em um ponto da cidade
Mulheres vendendo amor
Homens matando saudades.

Marias, doces Marias
De cristais e fantasias
Incandescem nossos sexos
Não passamos de bonecos.

A vida compra o tormento
A morte pede  passagem
E leva o garanhão dos sonhos
Em suas viagens.

Sarobá da rua
Rua nua e crua
Malcheirosa e doente.

Pedro Sampaio!


Autor: Gilberto Fernandes Teixeira
Arte: Sinhá Sinha

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Canteiros II

“Eu só queria ter no mato
um gosto de framboesa
Prá correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza”

“ E antes que chegue a morte
Ou coisa parecida”
Eu não me torne flor
E nem perfume a vida.

Esses canteiros...
São de corações apaixonados
Cada flor é um átrio aberto
Cada flor é uma poesia ao sol.

E a tristeza a essa altura
Já terá se transformado em alegria
Eu só queria tem um mato...
“Pensando bem um quintal de mato verde”

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira
Canteiros: Cecília Meireles

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A viagem


Todo mundo é passageiro
Pois estamos em uma breve viagem
Somos todos peregrinos
Mas muitos não possuem nem as passagens.

As estações da vida!
O que são 50 ou 100 anos?
Se uma eternidade nós espera
E as primaveras sempre acabam.

A viagem que sempre termina
Em uma cama
Em uma esquina
Ou nas encruzilhadas do destino.

Hoje sou homem
Mas já foi menino
Continuo o meu roteiro
Sendo sempre o protagonista.

Mas neste trem o maquinista
É o tempo que nós governa
E quando saímos dos trilhos
Ele já terá pulado fora.

Auto; Gilberto Fernandes Teixeira.

domingo, 2 de outubro de 2011

Nuvens cibernéticas


“Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão”

Pairadas no ar
Em qualquer lugar
Feito um ET
Em cima de você.

Estão as informações
Em nuvens estranhas
Procurando entranhas
Para se meter.

Uma matrix aérea
Onde nunca chove e em venta
Sem relâmpagos e nem tormentas
Com certeza iram nós plugar.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira

Parafina


Oh! Vela que pinga
Com chama sem cor,
Tais quais os meus olhos,
Tu pingas de dor.

São brancas tuas lágrimas
Iguais as minhas cristalinas
Porém são as minhas de água
E as tuas parafinas.

Oh! Vela que pinga
Que pinga de dor
Tais quais os meus olhos
Na perda do amor.

Morremos calados
Exaurindo calor
Tu vai se embora virando vapor
E eu suspirando na falta do amor.

Autor: Gilberto Fernandes Teixeira